Muito se tem falado do número de jovens que Portugal tem perdido para outros países, das graves consequências económicas e sociais da desvalorização das qualificações superiores e das dificuldades de acesso e realização profissional. Desde logo, tem sido evidente que a emigração de jovens qualificados tem sido uma tendência que representa um desperdício dos recursos, que só agrava a falta de capital humano nas empresas. Tem também sido um ponto importante no problema da produtividade, porque a reforça, e, entre outros efeitos, não podemos esquecer que acelera o envelhecimento populacional.
A todos estes pontos temos de somar um outro facto: temos um problema de base de mentalidades. Muitos empresários portugueses não olham com bons olhos para a entrada de smart money, de investidores estratégicos, e isso é uma transformação que temos de fazer. Acho que isso só vai conseguir-se quando acelerarmos a transição geracional. Temos a geração mais preparada de sempre, investimos muito nisso, mas essa geração não está a tomar decisões, não está presente nos conselhos de administração das empresas e no governo. Precisamos de conseguir mudar isto. Não se trata de uma revolução, ou de correr com as pessoas que tanto trouxeram ao país; os empresários com mais experiência continuam a ter de estar lá. Os conhecimentos que têm são essenciais, mas ganharíamos muito em misturar a sua experiência com sangue novo, que tem uma nova visão e abertura a ferramentas inovadoras. É preciso isso para tornar as empresas menos sensíveis a fatores externos, por exemplo.
Há um fosso geracional na sociedade. A transição deve ser suave e natural, mas tem de ser acelerada. Temos a mesma geração a tomar decisões há 30 anos. Os jovens são extremamente bem preparados e até pelo momento: falamos de transição digital, de IA e é natural que seja complexo para alguém que fundou a empresa a seguir ao 25 de Abril. As novas gerações já cresceram com estes temas, dominam-nos. Quando esta transição acontecer estes processos vão melhorar e nós vamos pontuar melhor.
As empresas devem estar conscientes das vantagens de integrar profissionais de diferentes faixas etárias, de modo a tirar partido da pluralidade de perfis sociais, comportamentais e culturais. Cada geração representa perfis diferentes e esta soma é de uma riqueza que devemos todos aprender a valorizar e, sobretudo, aproveitar.
Alexandre Meireles
Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários, Portugal
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